quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Meninas de Minas.

Quero uma mulher inteira
Mineira

Uma mulher verdadeira
Mineira

Um amor verdadeiro
Mineiro

E pra ser feliz
Inteiro

Mais um beijo,
Pão de queijo.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Porto seguro.

É preciso ter um porto seguro,
asseguro.

Pra uns, é alguém
Pra outros, além.

Uns já tem
Outros também.

E quem não tem,
amém.

Sábado à Noite, em Curitiba.

Mais um sábado à noite se aproxima; mais uma noite solitária nessa cidade fria. O sol se põe e a Cidade Sorriso cerra seus lábios e lança-me um olhar de desprezo – tento relevar.

Em meio a seus prédios repletos de pessoas friamente felizes, no topo de um edifício, um relógio de neon: 18:15; 9ºC.

Fodam-se os nativos, está frio pra caralho. Mas é fato: se não fosse a saudade, meu corpo estaria mais quente do que um cadáver.

Em meio ao vento que me corta a face, persisto bravamente – preciso me entorpecer, como de costume. Preciso esperá-la, como de costume.

Ao longo da rua XV, as curitibanas exercitam seu charme blasé. Tento disfarçar minha miséria. Em vão – minhas lentes escuras falham em esconder a tristeza que carrego nos olhos. Do fundo do poço, cavo um pouco mais. De dentro do buraco, monto minha casinha.

E lá de baixo, apóio minha cabeça e olho as pessoas passarem. Torço por um pouco de compaixão; relembro amor o que já tive. Esforço fútil – nem o mais fatal dos sorrisos consegue ofuscar a aura de fracasso que me cerca e repele a todos.

Adentro o mercado. Não estou afim de tomar porre de vinho, e logo me vejo em busca de um uísque barato.

Sinto que devo dizer que as coisas aqui são meio caras pra cacete. Não tenho dinheiro nem pra um uísque fodido. Gasto um tempo invejando os malditos americanos. Lá o lixo deles é meu luxo – elevado ao cubo.

Jamel, 51, Ypióca? Dúvida cruel. Tal dilema enfurece meu estômago. Presidente, talvez? Acho que não – desisto após ver o rótulo que não diz “Conhaque”, e sim “Aguardente com gengibre”.

Me dirijo à saída e dou meia-volta, só pra garantir – e realmente, as coisas aqui são meio caras pra cacete. Juro que não é culpa do meu complexo de pobreza.

Tento pensar em alguma loja de bebidas por perto - nenhuma me vêm a cabeça. Merda. Pelo andar da carruagem, noto que esta noite não será perdida em devaneios ébrios e apaixonados. Nada de me abraçar ao meu travesseiro; nada de relembrar aqueles beijos com sabor de café.

Hora do plano B. Vago pela aparentemente indevassável Praça Osório em busca de alguém que me possa vender um bagulho. Na verdade esse era – a priori – o plano A. Na verdade mesmo, o plano A costuma ser sempre esse.

Mas havia me desencorajado a fazê-lo. Estava decidido a manter a pouca dignidade que me restava, e isso incluía maneirar nas substâncias ilícitas.

A Praça Osório se mostra de fato indevassável - naquele momento. Tudo que
vejo são pessoas de bem – crianças, idosos e mães. Me sinto mau, e logo mal. Não gosto de ser a maçã podre do cesto.

Enfim. Próxima parada: Praça Rui Barbosa. Eu tinha, de fato, esperança de encontrar algo lá. Tinha mesmo.

Me enganei. Caminhei por entre suas árvores, lojas e fonte – tudo em vão.

Me ocorre que Curitiba é relamente muito limpa, bonita e alegre. Me sinto mais mau, e mais mal. Descendo ainda mais na espiral depressiva – estou em uma das melhores cidade do Brasil, sozinho.

De que valem todos os parques, praças e ruas maravilhosas; se me falta um amor? Me sinto cada vez mais vazio – e quanto mais vazio, mais preciso me preencher. E quem não tem afeto, caça com gato.

Era hora de ir para o lugar que me advertiram a evitar: a Praça Eufrásio Correa. Mas não de mãos abanando: Comprei um maço de cigarros no caminho.

Aos não entendidos, explico: se quer drogas, o cigarro é um aliado inestimável. Antes de chegar, acendi um e me entreguei ao êxtase cancerígeno.

Devagar, rondei a praça. De longe, noto uma viatura da polícia em ação. Mas, quem sabe, ainda teria sorte.

Passo pela fonte, e logo noto um maluco qualquer sentado com uma garrafa vazia sob o banco. Passo por ele. E o cigarro - como sempre - faz seu trabalho.

– Moço, você tem fogo aí?

– Claro, uai. Toma aí, maluco. – Acendi seu cigarro, apontei para o banco e lhe perguntei se podia lhe acompanhar.

– Claro, sem problema.

Ele estava sujo, e gaguejava enquanto falava. De momento em momento, tremia todo o corpo. Se eram seqüelas do crack; frio; ou ambos, não sei.

Esse era um daqueles momentos em que você se pergunta como sua mãe se sentiria te vendo naquela situação. Prefiro não pensar nisso. Apesar de eu ser em parte, fruto da omissão dela aos abusos praticados por meu pai, não guardo ressentimento – ela sempre foi uma boa mãe - não merecia uma decepção como eu.

Mas, como disse, é melhor não pensar nisso. Só deixa a merda toda mais fétida.

– Então, na real, você sabe quem tem um bagulho pra vender aí? – Costumo ser bem direto ao lidar com esse pessoal.

– Não sei. Não sei. Não sei. Um cara aí, comprou cincão hoje mais cedo. Mas o cara não tá aqui na praça mais.

Puta que pariu. Cheguei atrasado. Terminei o cigarro e, com certa cautela, apertei sua mão. Me despedi e vaguei mais um tempo.

Eu realmente preciso de alguém. A solidão, a falta de carinho, a carência de afeto. É uma morte quase burocrática – longa, complexa e sem desvios ou atalhos. Bom, até existem atalhos, mas aí o que resta da esperança?

Voltei para casa, muito pior do que saí. Me deitei sóbrio na cama, me encolhi sob as cobertas e esperei por ela.
Caí no sono, e sonhei com ela.

Mas passadas as poluções, já sabia: ela nunca ia chegar.